Estava aguardando um momento ideal para esse post. Não é esse o meu momento ideal, porque eu torci pra Argentina vencer hoje, simplesmente porque o Messi merece. Mas venceu o Uruguai, que é um grande consolo para a eliminação da dona da casa. Consolo que só quem realmente gosta de futebol pode entender. Consolo por saber que a Celeste está se reerguendo, ainda que aos poucos.
Além de ter sido disparado o melhor jogo da Copa América, a final antecipada entre Argentina e Uruguai serve para entender alguns aspectos atuais do futebol sul-americano. Os dois países têm história parecida no futebol, ambos são bi-campeões mundiais, ambos são bi-campeões olímpicos, ambos com números invejáveis de títulos das divisões de base. As duas seleções com mais Copas América, os dois países com mais Libertadores.
Mas o Uruguai parece querer dar um passo à frente da rival Argentina e de tantos outros. Os argentinos parecem copiar o modelo brasileiro de conduzir o futebol. O Senhor Julio Grondona é presidente da AFA há 32 anos, e vice-presidente executivo da FIFA desde 1988. Grondona que já declarou gostar de ser chamado de “O Poderoso Chefão” chegou a ser denunciado por Diego Maradona há poucos dias atrás, por estar associado ao ex-presidente do River Plate, José Maria Aguilar. Maradona acusa os dois de serem os responsáveis pela queda do grande River.
(Dirigente, de grande time que caiu, amigo do presidente da federação nacional que é amigo íntimo dos grandes chefões da FIFA... parece familiar isso não?!)
Enquanto isso no pequeno país vizinho após anos de administrações semelhantes, as coisas parecem estar mudando. O atual presidente da federação uruguaia, pelo menos até o presente momento, vem se mostrando uma pessoa capaz e honesta. Sebastián Bauzá assumiu a AUF em 2009, após dois presidentes renunciarem por problemas políticos. Em 2010 Bauzá foi re-eleito por unanimidade do conselho da AUF.
Sua primeira decisão foi renovar com Oscar Tabárez, que foi quem reformulou a forma como era levado o futebol dentro das seleções uruguaias. O primeiro passo de Tabárez foi organizar uma peneira em todo o país (que tem apenas 3 milhões de habitantes). Em seguida foram feitas melhorias estruturais nas divisões de base. E o mais importante, Tabárez tornou obrigatório que todos os jogadores tenham boas notas na escola e terminem seus estudos.
Afinal, muito dos meninos que passam pelas peneiras não se tornarão jogadores, a maioria não se tornará. E aqueles que alcançarem esse objetivo serão capazes de cuidar do futebol, e de suas próprias carreiras, impedindo assim que os gloriosos empresários e fundos de investimento o façam. Outro aspecto importante é a criação de exemplos de atletas bem formados e informados, que vão influenciar positivamente as novas gerações.
O Uruguai não ganhou a Copa do Mundo de 2010, apesar da campanha espetacular. Não ganhou o Mundial Sub-20 de 2011, apesar de ter um time altamente promissor. Ganhou da Argentina hoje, se ganhará a Copa América é impossível dizer. Mas o Uruguai vem ganhando uma coisa que o futebol argentino, brasileiro, italiano (entre outros) não tem já há muito tempo... Dignidade.
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